"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."
A frase do grande jurista Ruy Barbosa é um alerta atemporal que parece ainda mais relevante no contexto atual do Brasil. Vivemos em um tempo de profunda desconexão entre os princípios éticos e a prática cotidiana, especialmente por aqueles que detêm o poder e o conhecimento. A ética, em suas diferentes abordagens filosóficas – consequencialismo, deontologia e virtude –, parece relegada a um plano secundário, enquanto interesses particulares moldam decisões que impactam toda a sociedade.
Este artigo busca explorar essa desconexão, contextualizando-a dentro da realidade brasileira e trazendo à tona reflexões sobre o desalento gerado pela inversão de valores e pela fragmentação social.
O Ideal Filosófico e a Realidade Brasileira
As teorias éticas oferecem caminhos racionais para tomadas de decisão, mas no Brasil elas frequentemente são subvertidas, refletindo o caos moral que enfrentamos.
Consequencialismo Desvirtuado
O consequencialismo, que preza pelo maior bem para o maior número, frequentemente serve de fachada para decisões que atendem interesses específicos. O caso do inquérito de 8 de janeiro é emblemático. Sob o pretexto de proteger o Estado Democrático de Direito, foram tomadas medidas amplamente questionadas por sua seletividade, como prisões preventivas em massa e restrições ao direito de defesa.
O discurso oficial apela a um suposto "bem maior", mas na prática, o que se vê é uma racionalidade distorcida, voltada para a manutenção de poder e interesses particulares.
Deontologia e o Desrespeito às Normas
O pensamento deontológico, que defende o cumprimento de normas como um fim em si mesmo, também sofre sérias falhas no Brasil. Decisões arbitrárias, interpretações criativas da lei e desprezo pelo devido processo legal demonstram que princípios básicos, como o respeito às regras democráticas, são facilmente ignorados quando inconvenientes para os interesses de quem detém o poder.
A Virtude em Colapso
A ética da virtude, que pressupõe decisões baseadas no caráter e na moralidade, parece estar cada vez mais ausente. A inversão de valores que permeia a sociedade brasileira resulta em um ambiente onde a virtude não é apenas desvalorizada, mas ativamente ridicularizada. Como bem alertou Ruy Barbosa, a repetição da injustiça e o triunfo dos vícios levam à apatia e ao cinismo.
A Crise de Valores e o Papel da Vítima
A fragmentação social e a imposição de minorias sobre a maioria são outros fatores que intensificam o desalento. Lutas legítimas por direitos acabam, em alguns casos, desvirtuadas, transformando-se em imposições autoritárias que ignoram o equilíbrio democrático.
Além disso, a inversão de valores alcança níveis preocupantes quando a vítima é questionada pela sua reação a uma agressão, enquanto o agressor é protegido por interpretações relativistas da lei. Isso demonstra um colapso da virtude como um valor central da convivência social.
Quando o ambiente se torna caótico e desprovido de moralidade, surge a dúvida: vale a pena ser honesto em um mundo onde a desonra e a injustiça prosperam?
Por que Persistir na Virtude?
Apesar de todo o desalento, a resposta é: sim, vale a pena. Persistir na virtude é essencial, não apenas para a construção de uma sociedade mais justa, mas também para manter a dignidade individual.
Conclusão: Resgatando a Honra e a Virtude
O Brasil enfrenta uma crise de valores que parece cada vez mais enraizada. A desconexão entre os ideais éticos e a prática cotidiana reforça a urgência de resgatar a virtude como fundamento de nossa convivência social. Isso exige coragem para enfrentar o cinismo e a apatia, bem como para manter vivo o espírito da frase de Ruy Barbosa:
"A virtude pode parecer derrotada,
mas é somente
por meio dela que se
constrói uma verdadeira justiça."
Persistir na honestidade e na moralidade é um ato de resistência. E, como bem demonstrou a história, é nas pequenas resistências que as grandes mudanças encontram sua base.
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