Nos últimos tempos, o Brasil tem atravessado um período de grande turbulência institucional. Em meio a decisões judiciais controversas, a inércia do legislativo e a aparente incompetência do executivo, muitos brasileiros se perguntam: o que significa, de fato, obedecer às leis e à Constituição? E quando a obediência civil se transforma, na prática, em uma forma de resistência ao autoritarismo? Neste artigo, exploraremos as nuances entre obediência e desobediência civil, refletindo sobre como esses conceitos se aplicam ao contexto atual do Brasil. Obediência Civil no Contexto Normal: Respeito aos Preceitos Constitucionais Em uma democracia saudável, a obediência civil significa seguir as leis e os preceitos constitucionais que garantem a ordem social, os direitos individuais e as liberdades civis. Neste contexto, a obediência civil é a base do contrato social, onde os cidadãos cumprem suas obrigações legais, enquanto o Estado assegura a justiça, a liberdade e a igualdade. A Constituição de 1988, considerada um marco na redemocratização do Brasil, estabelece os princípios fundamentais que regem a vida em sociedade. Esses princípios incluem a liberdade de expressão, o direito à propriedade, a presunção de inocência, e a separação dos poderes. Obedecer a esses preceitos significa respeitar o Estado de Direito e participar ativamente da vida cívica, fiscalizando os poderes públicos, votando, e exigindo transparência e responsabilidade dos governantes. No contexto normal, a obediência civil é o comportamento esperado de todos os cidadãos. É através dela que se preserva a democracia e se evita a anarquia. Quando o sistema funciona de acordo com as regras estabelecidas, a obediência civil garante a estabilidade e a paz social.
Desobediência Civil: Um Instrumento de Resistência
A desobediência civil, por outro lado, é a recusa deliberada de obedecer a leis ou decretos que são considerados injustos ou ilegítimos. Historicamente, esse conceito foi popularizado por figuras como Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr., que usaram a desobediência civil como uma forma pacífica de protesto contra regimes opressivos e leis discriminatórias. No Brasil, a desobediência civil tem sido uma ferramenta importante em diversos momentos, como durante a ditadura militar, quando a sociedade civil resistiu às imposições autoritárias por meio de greves, manifestações e atos de desobediência. Nestes casos, a desobediência civil se justifica quando as instituições deixam de proteger os direitos e liberdades fundamentais, e passam a servir interesses autoritários ou antidemocráticos.
O Contexto Anormal
Quando Obedecer se Torna um Ato de Resistência O Brasil contemporâneo parece estar entrando em um território perigoso, onde as normas constitucionais estão sendo distorcidas para justificar decisões que limitam as liberdades individuais e favorecem determinados grupos em detrimento do bem comum. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal de limitar o acesso dos brasileiros à plataforma "X", sob pena de multa, é apenas um exemplo de como a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais estão sendo relativizados. Nesse cenário, a obediência civil, que tradicionalmente significa seguir as leis e as normas constitucionais, começa a se confundir com a desobediência civil. Quando as instituições que deveriam proteger a Constituição passam a atuar de maneira contrária aos seus princípios, obedecer à Constituição pode se transformar, paradoxalmente, em um ato de desobediência ao autoritarismo que se instala. Por outro lado, acatar cegamente ordens que violam os direitos constitucionais pode ser visto como uma forma de cumplicidade com a erosão do Estado de Direito. Assim, a verdadeira obediência civil, neste contexto, implica resistir a ordens ilegítimas e lutar pela restauração dos princípios constitucionais.
A Responsabilidade das Entidades na Defesa dos Direitos
Diante desse cenário, é essencial que todas as entidades, públicas ou privadas, assumam um papel ativo na defesa dos direitos e garantias constitucionais. Não se trata de agir com paixão ou em prol de interesses particulares, mas de promover um debate lógico e fundamentado sobre o que é necessário para preservar a democracia e o Estado de Direito. A omissão ou a complacência diante de abusos não pode ser uma opção, especialmente em momentos onde as bases constitucionais estão sob ameaça.
Um Chamado à Reflexão